CRISTIANISMO E METAFÍSICA

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Trecho do livro Religion in an Age of Science (Gifford Lectures, 1990).



O contexto do discurso religioso é a comunidade de adoração. Escritos em processo teológico, pelo contrário, muitas vezes parecem abstratos e especulativos. Deus é descrito em categorias filosóficas e não através de histórias e imagens. Mas devemos lembrar que diferentes tipos de discurso podem ter o mesmo referente. Um marido pode se referir a sua esposa na linguagem pessoal de carinho ou na linguagem objetiva de um relatório médico. Além disso, a metafísica do processo não é proposta como um substituto para a linguagem do culto, mas como um substituto para sistemas metafísicos alternativos. A metafísica é inevitável assim que se passa da linguagem primária da adoração (história, liturgia e ritual) para a reflexão teológica e formulação doutrinal.

O uso de categorias filosóficas na teologia não é novo. Agostinho estava em dívida com Platão, Aquino com Aristóteles, protestantismo do século XIX com Kant. Em cada caso, o teólogo teve que adaptar as ideias do filósofo à tarefa teológica. Por sua vez, os compromissos filosóficos do teólogo levaram a uma maior sensibilidade a alguns aspectos do testemunho bíblico do que a outros. Os componentes de qualquer síntese criativa são alterados por serem reunidos. Whitehead*, como Kant, era um filósofo já profundamente influenciado pela visão cristã da realidade. Whitehead reconheceu o caráter experimental e parcial de sua tentativa de síntese; ele sustentou que todo sistema filosófico ilumina alguns tipos de experiência de forma mais adequada do que outros tipos, e nenhum atinge a verdade final.

Em certos momentos do passado, a imposição de um rígido sistema filosófico impediu o desenvolvimento científico e teológico. O domínio do arcabouço aristotélico dos séculos XIII a XVII era, em alguns aspectos, prejudicial à ciência e à teologia. Na busca por unidade e coerência, devemos evitar qualquer síntese prematura ou externamente imposta. Não podemos esperar nenhum sistema completo e final; nossos esforços devem ser experimentais, exploratórios e abertos, permitindo uma medida de pluralismo em reconhecimento da variedade de experiências. O cristianismo não pode ser identificado com nenhum sistema metafísico. O teólogo deve adaptar, não adotar, uma metafísica. Muitos insights de processo podem ser aceitos sem aceitar o esquema total de Whitehead. Esses insights podem levar à modificação dos modelos religiosos clássicos, de modo que reflitam mais precisamente a experiência da comunidade cristã, assim como a compreensão científica contemporânea.

Ian Barbour


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